domingo, 20 de março de 2011

           Avaliação Pós Ocupação- APO é um trabalho de extrema importância para o sucesso de projetos, principalmente quando estes estão voltados para a melhoria da habitação. Trata-se de uma entrevista realizada com moradores de habitações populares ou não para que se possa saber a real problemática ou qualidade do projeto. Nesta avaliação leva-se em consideração a condição sócio-econômica, idade, renda, profissão, percepção espacial e sensitiva do morador entre outros fatores projetuais.

Após o lançamento da proposta de Avaliação Pós Ocupação de residências em conjuntos habitacionais, na disciplina de Atelier de Projeto Integrado, nós (André, Jakeline, Larissa e Rafaela) optamos em executar essa atividade com os moradores do Condomínio Village Residence 3, situado no bairro Minas Gerais, no setor  norte da cidade de Uberlândia. Fomos por volta das 14h, em um sábado; chovia um pouco e o tempo estava bastante nublado.

Localização do condomínio no bairro Minas Gerais.

Com questionamento realizado com os moradores do condomínio, constatamos que as residências de todos os entrevistados são próprias, financiadas,sendo que o valor pago por elas foi de R$38.000,00.

Vista aérea do condomínio Village Residence III e de mais dois condomínios Village

A renda familiar, em todas as habitações entrevistadas pela nossa equipe é superior a três salários mínimos ou um pouco abaixo disso, o que de acordo com os itens do questionário essas famílias possuem renda entre de R$ 1201,00 a R$ 1921,00 ou superior a esse valor.  Alguns possuem automóveis, outros motos e outros não possuem meio de transporte próprio, utilizando o transporte público. Este, aliás, se faz através de uma única linha direta do centro, o que torna a locomoção dos moradores demorada.

Entrada do Condomínio Village Residence III.

Vista interna do Village.

Algumas casas possuem antenas parabólicas ou serviço de TV por assinatura e/ou internet. Porém há algumas que não possuem nenhuma das duas por não permanecerem em casa durante todo o dia.

Metade dos proprietários entrevistados está muito insatisfeito com a dimensão das casas, pois acreditam que se tivessem uma condição econômica maior fariam maior proveito do espaço. Já a outra metade se encontra plenamente satisfeita, pois vêem o imóvel adquirido como a realização de um sonho e quando não, acreditam que têm o que precisam. Para eles foi consensual que a iluminação natural é presente de forma satisfatória assim como a ventilação; que a temperatura média natural da casa se faz agradável como também segurança do local. Este último item foi o mais citado com o maior índice de satisfatoriedade.

Na avaliação constatamos que a maioria dos residentes do condomínio está insatisfeita com os barulhos do lugar, pois alegam que no interior das residências percebe-se os ruídos da vizinhança do condomínio, e na rua do próprio bairro não há esse problema. Todos os moradores entrevistados nessa pesquisa estão insatisfeitos quanto à divisão do espaço em suas casas. Um exemplo é a dimensão do banheiro, a abertura do mesmo que se expõe diretamente a janela que liga a casa com a rua; os quartos e a localização da porta da sala.

Porta do banheiro exposta à rua

Todos acham que serianecessário pelo menos mais um banheiro, sendo em uma suíte. Às vezes por descuido, ao sair do banheiro com trajes íntimos a janela da sala o expõe a rua. Uma moradora alegou que não abre a porta da sala e quando abre a janela e a cortina permanece fechada.

Nas habitações do condomínio, a porta da sala situa na parede lateral, perpendicular a parede voltada para a rua, o que ocasiona na falta da privacidade mínima.


Vista do condomínio. Quando a porta de entrada da casa está aberta, permite a visibilidade
de boa parte da sala, o que faz com que os moradores fiquem quase sempre com ela fechada
e recebam os visitantes pela entrada dos fundos/cozinha



Os proprietários acompanharam a construção das casas, sendo que alguns deles fizeram alterações ainda na fase da obra, sendo que alguns até fizeram amizade com os pedreiros, atitude reprovada por funcionários da construtora de maior hierarquia.

Cozinha acrescentada ainda na fase da construção.
(Detalhe na faixa de azulejos decorativos)

Antiga cozinha que foi alterada para tornar escritório

No contrato, entre a construtora e o proprietário, constava o termo que a mesma entregaria a casa com acabamento, entretanto todos os entrevistados não quiseram a pia do banheiro e a pia da cozinha oferecidas pela construtora. Segundo os moradores a pia da cozinha era composta de fibra de vidro e a pia do banheiro era um porcelanato de péssima qualidade e um modelo retrógrado.

Modificações no banheiro com substituição da
pia e adição do Box

As reclamações também vieram com relação à qualidade do azulejo, as soleiras das portas e o tratamento de acabamento fornecido as paredes. Alguns moradores trocaram os azulejos e as soleiras das portas originais, uma vez que as mesmas, no projeto eram de ardósia e esses trocaram pela soleira de granito.  Os entrevistados estão insatisfeitos com o tratamento de acabamento das paredes, por essas não serem amaciadas, no entanto essas foram lixadas e revestidas com tinta látex.

Cozinha com alterações: acréscimo de azulejos
até a parede e remoção da pia original


Ao analisarmos os quartos das casas, percebemos que em todas as habitações odormitório do casal não cabe todos os mobiliários de modo que esses podem ser utilizados normalmente. Em todas as residências o layout desse compartimento é semelhante. Só é possível dispor os móveis, cama e guarda roupa, em lugares específicos no cômodo. Só podem abrir o guarda roupa, fechando a porta do quarto. Esse compartimento não proporciona flexibilidade nem oportunidade de identificação do morador com seu próprio espaço.

Disposição dos móveis no quarto de casal


Guarda-roupa com flexibilidade restrita


O cuidado estético com o lar também foi observado.  Em todas as casas observamos que os móveis da sala são de madeira (alguns feitos sob encomenda) e as cores dos estofados do sofá, cadeiras e puff predominam nas corres marrom e bege. Em uma casa uma das paredes da sala se destaca por ser revestida com grafiado em um tom de cor mais escuro.

Preocupação estética nas residências


No condomínio Vilage III, há uma área de lazer, sendo essa composta porchurrasqueira,  uma  pia e sanitário. Os residentes alegam que entre as 14 e 18h é impossível utilizar o espaço, uma vez que a incidência da luz solar no local é intensa . O mesmo espaço molha durante a chuva, e a água não escorre devido a ausência de ralo para escoamento. 

Área da churrasqueira com infiltração e péssimo escoamento das águas

Área de lazer com baixo uso de aproveitamento dos usuários

O bairro possui poucos equipamentos urbanos, se restringindo a apenas uma praça. A opinião dos moradores está dividida nesse aspecto, pois alguns utilizam a praça para descanso e caminhadas e alguns além de não utilizar também não fazem questão de que haja a mesma infra-estrutura.
Apesar de não ser o conjunto habitacional do menor nível sócio-econômico, achamos interessante o estudo deste, pois o mesmo traz aquilo que podemos chamar de“projeto maquiado”, uma vez que externamente muitos podem vê-lo com uma boa oportunidade de habitação, porém não é isso que se vê estando inserido nas problemáticas do lugar. 

Residência com infiltração no muro e área permeável alterada


A classe que ali habita, teve oportunidade de investir neste imóvel, mas, diferentemente de casas próprias não totalmente financiadas, não puderam intervir na qualidade dos materiais utilizados e sofrem com os mesmos problemas projetuais e construtivos que qualquer outra habitação de cunho social de menor custo. Deste ponto concluímos que o fato de ser “um condomínio” não atribui qualidade de vida nem tranqüilidade construtiva aos moradores.

Esquadria com rachadura superior em todo o seu comprimento


Os mesmos já enfrentaramreformas para se livrar de infiltrações em apenas dois anos de uso das casas. A “maquiagem” utilizada convence os pouco esclarecidos em projetos e materiais; convencem com a idéia de baixo custo e da necessidade de casa própria; acabam por não se preocupar com quem vive ali, com suas verdadeiras necessidades e buscas, pensando apenas em vender de qualquer forma e com o menor custo de produção. 

Esquadria mal colocada, já com problemas de infiltração e ferrugem.


Muro de uma das casas com infiltração, fato comum no condomínio.


Residência com uma construção posterior aos fundos. 



Adição de cobertura em parte do fundo para cobrir maior área de serviço.


Residência em reforma.



Improviso de uma cobertura para a garagem, enquanto espera para a construção da cobertura fixa.
Nessa residência ainda permanece intacta a área permeável.


Alteração na área de serviço com acréscimo de piso, balcão e ampliação da cobertura.


Este é o verdadeiro objeto de estudos que vimos: como melhorar a funcionalidade e a flexibilidade em espaços mínimos de forma econômicacom qualidade de projeto e de materiais.


Planta baixa original



Planta baixa de uma residência alterada


Planta baixa de uma segunda residência alterada


Layout residência 2


Layout residência 3